segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Sede

Chegou numa vaga de secura
e alojou-se no teu peito,
a mais doce amargura
que não sentes mas perdura.
É a bebida do desrespeito
que se fez tua sem direito.

Essa sede tão repentina
e de tal modo urgente,
quebrou a tua rotina,
apoderou-se de ti em surdina,
como quem doma uma serpente
num dialecto inexistente.

De peito seco a quebrar
na ressaca da inconformidade,
nunca quiseste aceitar
que a poção veio para ficar
e renunciaste com ferocidade
a essa absurda necessidade.

Mas para quem jurou
jamais a provar sequer,
muito até hoje saciou
essa vontade de beber.

Bastou o corpo se render
ao sabor que o aliciou,
para a razão te defender,
admitindo que falhou...

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