segunda-feira, 26 de abril de 2010

Adoro

Adoro o poder de distracção,
a preocupação.
Os olhares desfocados,
tão ansiados.
Um jeito diferente de paixão.

Adoro a expressão dura,
a procura.
A relevância do cruzamento,
no pensamento.
Uma saciável forma de tortura.

Adoro a estranha beleza,
a firmeza.
O monossílabo em surdina,
esta cortina.
Um assesto residente na incerteza.

Adoro o cheiro sem ter perfume,
todo este lume.
A luz que emoldurei,
me fixei.
Uma dependência sem ciúme.

Hoje mais que em qualquer dia,
adoro a fantasia!
O ter sem tocar,
o ver sem olhar.
Uma nascente da alegria.

Adoro, somente, poder adorar…

domingo, 11 de abril de 2010

De boca fechada

Foi o Sol que um dia me disse
que seria mágico se me risse
e deixasse que o mundo ouvisse.

Disse que o meu sorriso iluminava
a noite quando ele se deitava
e o meu riso aconchegava.

Mas já ninguém no mundo ouvia
o som dessa minha magia
quando de noite me ria.

Os timbres da felicidade
pertencem à outra idade
que jaz morta na saudade.

Nesta agora, quando sorrio,
não aconchego, só arrepio
e as noites não alumio.

De mágico já não tenho nada
e p'ra mostrar alegria ensaiada,
mais vale sorrir de boca fechada!

Mesmo que o Sol me mentisse
por uma razão eu acreditava
pois pensei que o mundo queria
ouvir um pouco de alacridade
mas nenhum escutar se abriu.
Hoje para rir e ser ignorada...

... mais vale sorrir de boca fechada!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Desfragmentação

Tudo se pode perder
numa fracção de segundo,
se as placas têm poder
de desconcertar o mundo.

Tudo pode estar completo
e desabar no incerto...

Tudo se pode alcançar
na quimera imensurável
e se o desejo de ganhar
não cair no confortável.

Tudo pode estar perto
e perder-se no deserto...

Tudo pode ser animação
se todo o mundo celebra.
Mas há sempre na satisfação
Um alicerce que se quebra.

Tudo pode ser brilhante
e escurecer num instante...

Como tudo pode ser vazio
mesmo no Ser mais inteiro,
pois quando a terra se uniu
fez do Homem seu herdeiro.

E Tudo se parte por Hele!

Tudo aquilo que não construíu
Tudo deste, do outro e d'aquele
Tudo foi âmbição que já ruiu!