sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Escrevo

Escrevo silenciosas canções
sobre todos os dilemas.
E as minhas suposições.
Escrevo, sobretudo, poemas.

Escrevo a sorte e a vida
com segurança e persistência,
na ansiedade de uma partida
aonde não leva a consciência.

Escrevo desejos de ternura
e outra torrencial de emoções.
Os ensaios da loucura
que devasta situações.

Escrevo causa e consequência,
o prelúdio das histórias.
Numa estranha indolência,
redijo marcas de memórias.

Escrevo cartas sem destinatário.
Um mapa, listas e alguma prece.
Não tenho regras nem horário,
Escrevo o que me apetece!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Delicious

Temos de admitir agora
antes que vás embora
que, quando as mãos tremem
e toda a pele se arrepia,
os lábios num ápice cedem
e sabemos que acabou o dia.

Tens de ser muito breve,
tornar este tempo mais leve.
Antes que os lábios molhados
e todo o prazer da euforia,
acabem de novo consternados
pela efemeridade da magia.

Tenho de ser interessante,
pois em qualquer instante,
sei que descerás da lua.
Quando o Sol se evapora,
passeias-te na minha rua:
apetitoso por fora,
delicioso na hora...

Já não se desfaz esta constante:
Teu prazer de me ver nua,
meu prazer de ser errante...

Poema do sofredor

Perguntou-me um dia se era feliz.
Disse que não e que assim o quis.


Jogando mais fé no papelão,
vive com ódio no coração.

Veste o que ainda pode servir,
temendo o abraço que irá omitir.

Dorme outra noite na cama errada.
Sonha com tudo, acorda sem nada.


Queima um pouco mais de papel,
ardendo-lhes as marcas do velho anel.

Comeu com mais pão cheio de bolor
e só engordaram as marcas de dor.

Chora outra noite na cama errada.
Sonha com tudo, acorda sem nada.


Venha mais fé para escrever.

Hoje será mais um dia infeliz,
por nada a não ser
porque assim o quis.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

É C(L)aro

Rebolou pelo céu
cor de leite
que não bebeu.
Não era aceite!

Sonhou com espuma
numa banheira
sem água nenhuma.
Não tinha maneira!

Comeu as molas
do seu colchão.
Já foram solas.
Não havia distinção!

Agarrou o ar
de uma flor
com dor p'ra dar.
Não teve amor!

Na fome rebolou,
no sonho se lavou,
na terra adormeceu

e na dor...
Na dor se esqueceu!



(Agora, é caro o algodão,
p'ra quem não estendeu a mão...)

Esta noite

Esquece as palavras e as melodias.
Hoje é o fim dos nossos dias.

Exala a sorte
e encara o frio.
Tudo será forte
no nosso vazio.

Não há ajuda
no desalento...

Esta noite
a sala é muda
como a cor do vento...

Basta!

Adoptaste por decoração
as expressões que analisei,
os embustes que coleccionei,
todos por mera emulação.

Na maior das audácias,
logras a ti e ao mundo.
Sopras fácil do teu fundo,
as mais tremendas falácias.

Repudio-te os adornos,
tão leves e confortáveis,
tão vastos e sem contornos.

Camufla os sorrisos instáveis
e o cheiro ardil das mentiras.
Basta de venenos afáveis!

domingo, 15 de agosto de 2010

Desisti


...desisti,
chorei.
No que vi,
encontrei,
só sorri.

No que sorri,
tentei.
Nem bati,
logo entrei,
não mais saí.

No que prendi,
orgulhei.
Nem senti,
logo aceitei
e consumi.

Não mais previ,
fiquei.
Nem sofri,
logo estraguei
no que cedi.

No que percebi,
errei.
Nem sorri,
nem chorei.
Logo vi,
só desisti ...

domingo, 25 de julho de 2010

Sem sentidos

Por norma
sentiria a forma.
Mas minto.
Quando toco,
nada sinto.

Por consequência
preveria a essência.
Mas é vazio.
Quando inspiro,
a nada associo.

Por orgulho
ouviria o barulho.
Mas refuto.
Quando ouço,
nada escuto.

Por regra
veria a quebra.
Mas se desejo,
quando olho,
nada vejo.

Nada é o sabor
quando te beijo.
Mas o amor
tira a mordaça,
por Farsa.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Mãe

Mesmo na angustiante incerteza,
acolheu-me teu ventre um dia.
Para gerar na novena da magia,
mais uma semente da pureza.

Aconchegos no calor do leito.
"Haverá algo mais perfeito?"

Nascente do meu alimento,
contemplante do meu sorriso.
Assim, só afecto foi preciso
para findar este crescimento.

Abraço forte na noite sombria
"Não tenhas medo da fantasia"

E se acordava, tu jamais dormias,
nas insónias da «cama do corredor».
Procurando encontrar na tua cor,
a cura que sempre trazias.

Tanta ternura num rosto de dor.
"Vais ficar bem, meu amor!"

Pintaste perfeito o meu caminho,
camuflando as lágrimas com borrões
e um pouco de aguarela nas ilusões,
na mais inteira folha de pergaminho.

Conselhos úteis na hora da loucura
"Pensa bem na consequência futura"

E assim,
acolheste, alimentaste,
curaste e preparaste,
o frágil caule que enrijeceu,
a semente etéria que floresceu.

Foste terra para me semear,
água fresca que me saciou,
o ar que me faz respirar,
A mãe que sempre me amou
e que para sempre vou amar.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Adoro

Adoro o poder de distracção,
a preocupação.
Os olhares desfocados,
tão ansiados.
Um jeito diferente de paixão.

Adoro a expressão dura,
a procura.
A relevância do cruzamento,
no pensamento.
Uma saciável forma de tortura.

Adoro a estranha beleza,
a firmeza.
O monossílabo em surdina,
esta cortina.
Um assesto residente na incerteza.

Adoro o cheiro sem ter perfume,
todo este lume.
A luz que emoldurei,
me fixei.
Uma dependência sem ciúme.

Hoje mais que em qualquer dia,
adoro a fantasia!
O ter sem tocar,
o ver sem olhar.
Uma nascente da alegria.

Adoro, somente, poder adorar…

domingo, 11 de abril de 2010

De boca fechada

Foi o Sol que um dia me disse
que seria mágico se me risse
e deixasse que o mundo ouvisse.

Disse que o meu sorriso iluminava
a noite quando ele se deitava
e o meu riso aconchegava.

Mas já ninguém no mundo ouvia
o som dessa minha magia
quando de noite me ria.

Os timbres da felicidade
pertencem à outra idade
que jaz morta na saudade.

Nesta agora, quando sorrio,
não aconchego, só arrepio
e as noites não alumio.

De mágico já não tenho nada
e p'ra mostrar alegria ensaiada,
mais vale sorrir de boca fechada!

Mesmo que o Sol me mentisse
por uma razão eu acreditava
pois pensei que o mundo queria
ouvir um pouco de alacridade
mas nenhum escutar se abriu.
Hoje para rir e ser ignorada...

... mais vale sorrir de boca fechada!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Desfragmentação

Tudo se pode perder
numa fracção de segundo,
se as placas têm poder
de desconcertar o mundo.

Tudo pode estar completo
e desabar no incerto...

Tudo se pode alcançar
na quimera imensurável
e se o desejo de ganhar
não cair no confortável.

Tudo pode estar perto
e perder-se no deserto...

Tudo pode ser animação
se todo o mundo celebra.
Mas há sempre na satisfação
Um alicerce que se quebra.

Tudo pode ser brilhante
e escurecer num instante...

Como tudo pode ser vazio
mesmo no Ser mais inteiro,
pois quando a terra se uniu
fez do Homem seu herdeiro.

E Tudo se parte por Hele!

Tudo aquilo que não construíu
Tudo deste, do outro e d'aquele
Tudo foi âmbição que já ruiu!

quinta-feira, 18 de março de 2010

Miragem esporádica

Na verdade, já não sei escrever,
nem para onde levaste a poesia.
Redijo-te versos por enriquecer
pois cegas-me tudo à periferia.

Miragem esporádica, constante desejo.
Urge em mim te poder ler.
Mas em palavras não te vejo,
só exprimem loucas o carecer.

Não preciso louvar-te a beleza,
tácita no sorriso mais completo.
Estudo as margens na incerteza,
tentando-me a alma em concreto.

Vem sem demora,
Cega-me tudo, este ansiar.
Urges-me de tanta insensatez.

Se desapareceres agora,
Deixa-me um sonho para louvar,
Sorri-me só mais uma vez...

sexta-feira, 5 de março de 2010

Sejam Autênticos!

Exprimem-se, é verdade.
Seja na impressão adulterada,
na transcrição que não diz nada.
Mas exprimem.
Uma espécie de inutilidade.

Em textos distorcidos
escrevem mas não sentem
o que sentem e não escrevem.
Mas enfeitam.
Como bordados em tecidos.

Folhas tão bem marcadas
pela caneta de tinta a musa,
de inspiração alheia e difusa.
Mas escrevem.
Palavras já muito pronunciadas.

Não se cometa tamanho presságio:
pôr letras nos espaldares do plágio.
Roubadas e transformadas,
perfiladas e encaixadas,
na mais estúpida harmonia.

E Sejam Autênticos!
Não há por que clonar a escrita,
tornando a arte tão restrita.
Exprimam, enfeitem, escrevam,
mas trabalho da vossa autoria!

terça-feira, 2 de março de 2010

Albergues da vida

Com sorrisos inventados
vivem na sombra modesta.
Escombros mal afectados,
nos ecos do pó que resta.

Tão sós e sem perceber
que o sangue corre nas veias.
Com as palavras por dizer
amordaçadas pelas teias.

Lá repousam paralelamente
em oferendas da vingança.
Deste descanso já doente,
nasceu o medo, morreu a esperança.

Não são mais que cinzas
da velha paixão extinta.

E mesmo quando se enlaçam
na ternura desvanecida,
estes corpos já não passam
de albergues para a vida.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Não tenho mais nada

Não tenho mais lugares
por onde possa explorar.
São desertos os mares.
Já se sabe que vou ficar.

Não tenho mais tácticas
pelas quais possa atacar.
São inofensivas as práticas.
Já se sabe que vou falhar.

Não tenho mais palavras
para que possa explicar.
São duras as amarras.
Já se sabe que vou faltar.

Não tenho mais sentidos
por onde me possa inspirar.
São vagos e despidos.
Já não me podem sustentar.

Tenho o quê? Se não há mais.
Nada o pode, nem nada o é!
São pobres conclusões mentais,
que nada tenho a não ser fé!

Sede

Chegou numa vaga de secura
e alojou-se no teu peito,
a mais doce amargura
que não sentes mas perdura.
É a bebida do desrespeito
que se fez tua sem direito.

Essa sede tão repentina
e de tal modo urgente,
quebrou a tua rotina,
apoderou-se de ti em surdina,
como quem doma uma serpente
num dialecto inexistente.

De peito seco a quebrar
na ressaca da inconformidade,
nunca quiseste aceitar
que a poção veio para ficar
e renunciaste com ferocidade
a essa absurda necessidade.

Mas para quem jurou
jamais a provar sequer,
muito até hoje saciou
essa vontade de beber.

Bastou o corpo se render
ao sabor que o aliciou,
para a razão te defender,
admitindo que falhou...

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Deixa-me dormir!

Pára de passear nestas noites geladas.
É que dormir ia saber-me bem.
Porque não dormes tu também,
deixando as minhas pálpebras descansadas?

Compra-me os sonhos se quiseres.
Será mais fácil adormecer,
quando deles me desfizer
e no meu sono não apareceres.

O cansaço não pára de me consumir
e tu continuas nesta indecência.
Não agridas mais a minha impertinência.
deixa-me, apenas e só, dormir!

E deixas-te...

Com respeito, desapareceste um dia
e eu dormi nesta ausência enfim...

E dormi, dormi...

Dormi tanto que já só queria
acordar desta noite sem fim!

É que hoje a saudade dormiu em mim...

domingo, 14 de fevereiro de 2010

A vida é dura

Lembro-me de te ver sonhar
sentada no vão da escada.
De rosto fúlgido a delinear
cada degrau da tua caminhada.

Nos longos trilhos que caminhaste,
foi-se erguendo uma muralha.
E tu bem longe me privaste
o sabor final da tua batalha.

Doce imaginei eu um dia,
mas que caminho foi o teu?
Caíste na cova da agonia
e o tempo não te amadureceu.

Como os ponteiros ganham lutas
furiosos e cansados da corrida.
Espadas humildes, mas astutas
que circulam traçando a vida.

E a tua vida posso resumir
na negra mancha que te cobre.
Já sem sonhos a florir.
Com fulgidez baça e pobre.

Terá sido culpa do destino
ou não deste valor ao tempo?
Correste sem alma, como felino.
foi por mero contratempo...

Mas não te escondas mais no medo,
já nem ele te segura.
E não mintas mais nesse segredo.
A verdade é que a vida é dura!

Semente

Posta a semente na terra,
fez-se a rega a bom carinho.
Cresceu a flor, nasceu o fruto.
Mais um bicho, mais um ninho
e o ciclo se encerra.

Fez-se a rega do impuro.
Fruto é podre, a flor murchou.
Raíz de caule pouco seguro,
bem que a terra não acolheu
e mais um ciclo acabou.

De sede a amizade morreu
e nova semente ninguém plantou...

Sempre tu

Sempre tu
prazeirosa,
esfuziante, esfomeada,
ansiosa
por me deixar sem nada.

Sempre tu
marcante,
furiosa, sem respeito,
incessante
em me queimar o peito.

Sempre tu
abusiva,
como morte sem lar,
excessiva
em mim a transbordar.

Sempre salgada,
sem vida e sem cor.
Inquilina da minha morada.
Sempre a mesma Dor.

Escrever

A escrita é como uma gruta,
uma prisão para a mente
que te cerca em força bruta.
Um refúgio para quem sente.

Deitas teu peito na folha
e a caneta te assassina.
Escrever é estar numa bolha
que te priva da bolina.

Escreves para nada nem ninguém,
sem razão ou compromisso.
Porque assim a dor sabe bem.

Morres um pouco, vives submisso
- a dor na tinta que fez alguém -
Escreves apenas e só por isso...

História

Quando o olhar já não se cruza,
parece inútil te escrever.
Mas a dor ainda abusa
e aumenta o medo de te perder.

Ouvindo a história que não foi nossa,
limpo o pó desta aventura.
Para que à noite já não possa,
espirrar a dor que ainda perdura.

Já eu penso que te varri
e o pó volta a assentar.
Leve camada do que restou de ti.

Ácaros que doem ao respirar.
Aquilo que beijei mas não vivi.
História esta que é o meu ar.

Correntes

Bebi na fonte tua bonomia,
a navegar teu rio sem curso.
E jamais senti a pele fria,
quando no teu abraço de urso,
o meu corpo se aquecia.

Encontrei tudo o que queria,
a bolinar nessa corente.
E jamais senti a alma fria,
quando no teu olhar urgente,
o meu olhar se fundia.

...

Esta noite o choro embacia
os gélidos olhos que te desejaram.
E abraço, fora ele um dia.
Agora, esse calor me roubaram.

Tudo o que bebo é apatia.
As tuas fontes já secaram.
E aquilo que de nós fluía,
para outras correntes o arrastaram.

Olhar

Desvios repentinos nos quis me perdi,
formaram caminhos encantados,
de vastas ilusões cercados,
que mesmo sem pensar, percorri.

Assim, vazia de qualquer certeza
e arriscando o meu motivo,
foi no teu olhar, caçador furtivo,
que me tornei a feliz presa.

Por entre esse virente penetrante
fui descobrindo um novo sentido,
pois no nosso olhar perdido,
a vida era bem mais brilhante.

Contudo, o olhar deste amor
foi mais que uma promessa válida,
em que até a noite mais pálida,
ganhou uma nova cor...

Vitória

Cada palavra suprimida
que a tua boca mastigou,
abriu em mim uma ferida
que a desilusão infectou.

Quanta admiração por se saber?
Mas é tão fácil descobrir quem...
Quando os olhos não têm coragem de fazer,
o que só a boca faz tão bem!

E esta escura medalha
que hoje no peito me pesa,
nem eu sei porque a mereci.

Pois o amor jaz nesta malha
e a vitória que me despreza,
nunca foi minha, nem a senti.

E tudo o que vejo...


Por entre frenéticas correntes dancei
e nem no mais fundo azul te encontrei.
Na exaustão mosdeste os iscos.
E tudo o que vejo são riscos.

Com a noite amaldiçoando as ruas,
cantei ao vento memórias tuas.
Na madrugada apagaste as minhas.
E tudo o que vejo são linhas.

De gesto rápido como um espasmo,
sem te poupares ao entusiasmo.
Na indecência desfizeste os laços.
E tudo o que vejo são traços.

Já só resta o muro que ergui,
neste quadro que pintei para ti.
Na desilusão saltei as pranchas.
(nada vejo agora que morri)
E tudo o que vês são manchas.

Acabarás por me destruiur

Se o olhar me abriu a cortina
para a tua tentadora claridade,
tudo o resto me fechou o gosto
a esta efémera cumplicidade.

Se desta aventurada paixão
não sobrou sequer um sorriso,
nem o olhar é mais tentação.
Agora, se te olho, paraliso.

Mas ainda que o sol se apague
e toda a aventura acabe,
estarás lá para me seduzir.

Mas ainda que eu te resista
e te coloque fora de vista,
acabarás por me destruir.

Decomposição

O que já fora semente
plantada em solo seguro,
cresceu virada a poente,
ignorando o futuro.

O que já fora contentamento
nascido naquele quarto,
cresceu num fingimento,
de qualquer carinho aparto.

E assim, já só distfruto
do que está em decomposição...

E este fruto
de tão maduro,
já anda podre!

E este coração
de tão farto,
já anda morto!

Triste nada

Tens numa pedra o teu orgulho.
Triste pó cinzento,
triste noite estrelada.
E no entulho,
tens o sustento
que não te serve para nada!

Tens numa mancha o teu mundo.
Triste diálogo mudo,
triste tela amarelada.
E no fundo,
tens para tudo,
quem não te quer para nada!

Tens o nada

Tens a prática
madura,
segura.
Tens a táctica
secreta,
repleta
de falsidade pura.

Tens a missão
irracional
fatal.
Tens a acção
imediata,
insensata
de cobardia total.

Tens a vitória
inventada,
roubada.
Sem a glória.
És assim
e, no fim,
não tens nada.

Preguiça

É espontânea, em mim imperatriz.
Impossível gostar da sua languidez.
E cansa-me assim que me diz,
que posso deixar tudo para outra vez.

É paralisadora, em mim entregue.
Não tem dó nem piedade.
E humilha-me assim que consegue,
apoderar-se da minha intelectualidade.

É inconstante, em mim contrariedade.
Ás vezes, promete deixar-me ir.
E assusta-me assim que a sua comodidade,
volta, instantâneamente, a me consumir.

É detestável, em mim parede maciça.
Procura-me em todo o lugar.
E devora-me de novo preguiça,
pois serei fácil de encontrar.

És assim, em todos morte postiça,
sem vontade, sem força, sem acreditar.

Mundo ao Contrário

Gritei para não me fazer ouvir,
segurei-me a tentar cair.
Entanto, ninguém se mostrou disponível.
Eu só queria voar sem ter de partir.
Como pude julgar-me tão invencível?

Joguei fora porque as queria guardar,
queimei-as para mais tarde recordar.
Entanto, ninguém me ajudou.
Eu só queria lembrá-las sem as decorar.
Como pude julgar que tudo acabou?

Activei o fim, deixando o princípio acontecer,
cortei a minha língua para te dizer...
Entanto, todos tornaram o momento precário.
Eu só queria fehcar os olhos e poder ver,
como pude ser julgada neste mundo ao contrário.

O que resta

Olhando pela janela, eu vejo-a.
Melancólica, esverdeada, desejo-a.
E observando, sem ruído ou movimento,
acabo imobilizando corpo e pensamento.

São raízes que eu crio,
prendo-me à velha paisagem
onde tudo é igual e sombrio.
Insiro-me na tela que alguém pintou.

E quando sai à rua,
visto-me de abutre.
Alimento-me do que resta,
do que não presta,
se é que alguma vez prestou.

Cá dentro

Abraço o sol se preciso do teu calor,
beijo o chocolate, procurando o teu sabor.
Pois o vento sopra em mim a tua calma
e cá dentro já não mora a tua alma.

Ouço música querendo te ouvir,
penso nos sonhos e só quero ir dormir,
pois regresso sempre ao passado
e cá dentro já está tudo apagado.

Por isso adeus, pois já não há
nem calor, nem sabor, nem calma por cá.
Nem vontade de prender ou de largar,
Porque a intenção nunca foi de te deixar...

Sente!

Pisca,
arrisca,
acende.
Tu vais,
eu sigo-te,
aprende!

Agarra,
amarra,
ofende.
O ar enlouquece,
tudo aquece,
surpreende!

Volta,
solta,
compreende.
Tu sais,
eu digo-te:
Sente!

Parecia apenas mais um dia...


Se o sol não brilhasse con tanto desvelo
e a areia não me agarrasse.
Se aquela voz não me chamasse,
com o intuito de tornar a vê-lo.

Se o coração não batesse desordenado
e toda a luz não me encandeasse.
Se aquele olhar não me encantasse
com a malícia de um condenado.

Se o ar não faltasse ao passares
e o corpo não tremesse ao me tocares...
Mas nada foi fantasia.

Se tudo tivesse sido diferente
e o relógio seguisse em frente,
parecia apenas mais um dia...

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Falso Alarme

Ouvia-se um ruído,
algo que naquela noite surgia,
um som cruel e despido.
Melodia da infidelidade se ouvia.

O barulho acabou por cessar,
por entre as cores do novo dia,
fazendo-me assim acreditar
que falso alarme seria.

Entretanto, de novo soou,
com irónica nostalgia.
Outro alarme anunciou,
o falso amor que me feria

Inês


Nos piores a chorar, ou nos melhores a sorrIr
Eras tu quem me sustentava quaNdo estava a cair.
Muitas vezes sem respostas e ausente de porquÊs.
O teu silêncio bastava, bastavas tu InêS

Cheiros

Já não sinto o da terra molhada
depois de uma noite tempestuosa,
em que a chuva melodiosa,
cultiva musgo na calçada.

Já não sinto o da água salgada
depois de um mergulho no mar.
O azul faz questão de me acalmar
enquanto deixa a minha pele molhada.

O da terra e do mar já esqueci.
O das flores e dos frutos também.
Agora tudo me cheira a ti.

Já só sinto o da pele suada
depois de um jogo só nosso.
Agora só sinto o cheiro de ser amada.

Em Tempos

Em tempos falei com a lua,
fui vencendo medos que tinha.
E o tempo que guardava esta dor só minha,
já levou para longe a que era tua.

Ela voou, mas pousou perto.
Fez ninho na nossa morada.
E eu, de cara molhada,
tentei concertar o que já não tinha concerto.

Fui voar, mas caí.
Fui acreditar, mas sofri.
Em tempos que a quis perdoar, mas não a vi.

À Sombra da Madrugada

Sento-me à sombra da madrugada
para tentar, no escuro, perceber
se é realidade ou se sonho acordada
com tudo o que nos foi acontecer.

Não sei que foi que nos criou
e um dia mais tarde nos destruíu.
Quem terá sido quem nos juntou
e nos abandonou naquele vazio.

E durante tempos e tempos,
as gotas de chuva que se infiltraram no terreno,
consumiram-nos como puro veneno.

E agora, como conseguencia de momentos,
somos copos seprados mas de almas unidas.
Somos corpos com as mesmas feridas.

Muros

São duros,
Estreitos, de má passagem.
Como o mal, feito miragem.
São escuros.

Roubam futuros.
São rios sem corrente,
São corpos sem mente.
Muros...

Gargalhadas imaginárias,
Lágrimas solitárias
e eu durmo no meio delas.

São momentos de pura anormalidade
que vivo na minha nova cidade.
São corridas loucas atrás delas...

Margarida

Amarelo é teu pequeno coração.
É branca tua corola de paz.
Tão forte e tão fraca por uma limitação.
Pois tantas pétalas o amor desfaz.

Mal-me-quer ou Bem-me-quer?
...mãos trémulas de inquetação...
Pois só ela poderá responder
quando a última pétala cair no chão.

Não te vêem brilhar nos campos.
Pouco cheiro, pouca cor.
Vêem-te vulgar e de poucos encantos.
És apenas jogo e não flor.

Mas Margarida não chora,
todo o orvalho é só suor.
És planta da vida nesta imensa flora.
Para uns brinquedo, para outros a melhor.

Eu

Eu, quem sou eu?
Eu sou apenas eu.
Quem mais poderia ser?
Mais um bebé que nasceu.
mais uma criança que cresceu.
Serei eu apenas mais uma mulher?

Mulher, chegarei a ser?
E o meudia para morrer
estrá longe ou perto?
Mais uns dias para viver,
mais oportunidades a perder.
Terei eu para sempre medo do incerto?

Incerto, quando páras de atormentar?
Eu só gostava de arriscar,
porque me dizes sempre que não?
Mais uma vez não vou tentar,
mais muros me vão cercar.
Merecerei eu tamanha frustração?

Frustração, vai embora!
Limpa a minha dor, vai agora
e leva tudo para que não te relembre!
Mais um dia corre lá fora.
A dor já foi embora.
E eu? Ficarei livre para sempre?

Ela\Ninguém

Ela...quem era?
Prado verde que o sol não iluminou?
Areia branca que o vento soprou?
Ninguém se esmera e Ela quem era?
Era muro que a tempestade desmoronou.

Ela...que tinha?
Coração de boneca em liberdade?
Mãos abertas em jeito de necessidade?
Ninguém adivinha e Ela que tinha?
Tinha olhos molhados, chorando saudade.

Ela...que queria?
Mentiras em chuva permanente?
Ser julgada, sendo inocente?
Ninguém sabia e Ela que queria?
Queria apenas a força de um abraço quente.

Ela...que recebeu?
Poeira para o seu infectado corte?
Raios de sol limpos de sorte?
Ninguém percebeu e Ela que recebeu?
Recebeu o pior, recebeu a morte.

Ela...

Era quem jamais desejou ser.
Tinha o que nunca quis ter.
Queria o que já não pode obter.
Recebeu a morte por se esquecer,
que quem não luta, não pode viver!

Ninguém se importou, logo Ela não lutou...

Momentos

Tão bons momentos eu passei
e só agora me lembrei
que um dia os deixei fugir.
Lembra-los é sorrir, sofre-los admitir
que nunca mais os alcançarei.

Noutro tempo seria tudo invisível?
Ou não era eu sensível
ao ponto de lhe dar valor?
Agora esse tempo só tem uma cor.
Está negro, desbotado, irreconhecível.

E por isso caminho neste escuro
onde nada parece ter futuro.
E os bons momentos que passei,
são agora segredos que nunca contarei.
Escondi-os atrás do muro
que, sozinha, jamais derrubarei.

Parede Quente

Escorreguei,
Encostei.
Entreguei-me,
Deixei-me
Levar por ti.
Parede Quente
Se abraçara a mim.

E eu queria,
Mas não podia
Acreditar que fosse assim
Que se acabara a agonia
Que me atormentara anos sem fim.

Segundos, foram segundos...

Pensei,
Acreditei.
Entusiasmei-me,
Deixei-me
Guiar pelo tempo.
Núvem branca
Se entrelaçara no momento.

E eu vivi,
E então senti
Que aquilo por que sempre esperara,
Estava agora ali
E eu descobri
Que a tal agonia sempre me amara.

Ódio

Paredes brancas escurecem ao ver-te passar.
Núvens correm a esconder o sol de ti.
Ódio e egoísmo começam a contagiar,
ao amor, verdade e partilha dás um fim.

Já não há rio que corra para o mar.
Secaste as fontes, pisaste as flores,
proibiste os pássaros de voar.
Como maldição, fizeste a terra perder as cores.

Não consigo para de chorar,
no meio dos anjos me aprisionaste.
Levaste um, para com ódio lhe injectar.
Vírus revolucionário que tu próprio criaste.

Há sangue no chão, gritos no ar
e o mais forte desejo de sair daqui.
As grades impedem-me de o realizar.
Sinto arrependimento porque um dia não fugi.

Tens um lacre de mal na tua mão,
mas a cera dessa vela um dia acabará.
Vai cair teu corpo neste pavimento em combustão
e a tua pobre alma, essa chama, queimará!

Lembrança

Pressiono o botão e a luz acende.
As memórias rodopiam no tecto do quarto.
Um segundo e a lágrima se desprende,
levando as frustrações de um coração farto.

Lembro o momento em que escolhi o errado.
Lembro as promessas de um tempo passado.

As estações mudaram,
o sol de Verão já não é igual.
Duas pessoas tanto lutaram,
uma delas perdeu a batalha final.

Lembro o golpe que não defendi.
Lembro o escuro caminho que percorri.

Anos passaram e a ferida não sarou.
Continuo a esconder o que sinto.
Rápida a forma como o tempo passou,
longo todo o momento em que te minto.

Lembros os cantos onde costumo chorar.
Lembro quando quis fazer o tempo parar.

Eu tentei ser tudo, ser beleza rara.
Não tinha meios para atingir o que queria.
Queria os teus olhos, tua boca, tua cara.
Nunca pensei que sem nada acabaria.

Lembro o sabor da boca que nunca provei.
Lembro quando olhei para trás e chorei.
Lembro o erro, do qual nunca me perdoei.
Lembro da oportunidade que um dia assassinei.

Tu não sabes, só eu sei...

Julguei ser capaz de te enterrar.
Podia, mas nem queria tentar.
É algo que nunca poderei esquecer.
Para sempre, em mim, vai permanecer.

Único, não posso deixa-lo ir!
Dá-me vida e acaba por me destruir.
Dá-me angústia, sofrimento, dá-me dor.
É um sentimento, chama-se verdadeiro Amor!

Tu não sabes, só eu sei...

Vou estancar a lágrima e deixar o coração limpo,
vou repor o sol e vencer a batalha final,
vou revelar, sem mentir, aquilo que sinto,
vou sorrir e esquecer o erro inicial,
vou ser eu, sei que não me arrependerei...

... e tu irás saber, aquilo que só eu sei!

Escuro

É sempre nas noites mais escuras
que a luz teima em não ligar.
É quando estou presa nas amarguras
e não há ninguém para dali me levar.
Destruída por dentro, completamente fragilizada,
procuro um sítio onde possa gritar.
No lugar mais vazio acabo sentada,
vendo no espelho tempestade no meu olhar.
Meu peito incha, já nada pode mudar.
E esperança? toda ela emigrou.
Explosão interna, estou no chão a sangrar.
Já nada sinto, meu corpo congelou.
Agora é tarde para segredos contar...
Adeus ao sonho, a minha vida acabou!